Você lembra? Do que você
lembra? Uma chave esquecida, a luz do banheiro acesa, o pagamento de um boleto,
o cheiro da casa da sua avó, o gosto de um café, aquele hotel na serra, a roupa
da primeira vez que a viu. Lembrou?
Lembranças são
sentimentos, momentos, objetos, músicas, sensações, sabores, lugares, pessoas,
histórias, fragrâncias.
Nossa mente se perde em
meio a esse emaranhado de flashes e volta ao passado, sim ao passado, uma
lembrança não pode estar no presente, tão pouco no futuro, a menos que você
seja o Marty Macfly*. Acionamos essas lembranças a partir de gatilhos que por
vezes nem sabemos como surgem, pareciam lembranças perdidas, mas de repente vem
à tona como se estivéssemos vivendo tudo outra vez.
Um devaneio e pronto.
Lembrou, pensou, reviu detalhes e até sentiu aromas. É curioso, mas seres
racionais deveriam poder dominar seus pensamentos. Dominar um pensamento, isso
não é possível, tão pouco existe ligação com racionalidade. Lembranças não são
o mesmo que pensamentos, nem tão pouco com raciocínio. Pensamento e raciocínio
estão ligados à lógica. Podemos, por exemplo, pensar a solução para um problema
ou analisar casos de raciocínio lógico e chegarmos a um resultado. Uma fórmula
matemática, não é o mesmo que lembrança, isto é conhecimento. Lembranças estão
ligadas diretamente aos sentimentos, seria o coração agindo, então? Não,
coração é apenas um órgão, que faz parte do sistema circulatório; responsável
por bombear o sangue por vasos sanguíneos e artérias e sem ele não viveríamos.
Então sentimos com o quê? Bem, isso é um conceito que se busca há tempos,
religião, estudiosos, cientistas, cada um tem sua explicação. Alma, hipotálamo,
hipocampo, são tantas teorias e cada uma dotada de seu estudo de caso muito bem
fundamentada que não cabe aqui aprofundar.
Enfim, essa viagem ao
passado nem sempre é agradável, às vezes nos joga em buracos onde não
gostaríamos mais de entrar, mas isto está ligado a forma como vemos nosso
passado e as experiências que tivemos nele. Se uma situação que nos deixou
triste ou um período que foi ruim, conseguimos aprender alguma coisa, se
superamos essa situação adversa, esta memória vai se tornar algo bom
futuramente. Ainda assim será doloroso lembrar, mas essa lembrança trará a
certeza de que conseguimos vencer. Estas tristes e dolorosas lembranças são
importantes, porque são responsáveis por nos manter preparados para enfrentar
situações semelhantes e dar a certeza que venceremos novamente, isso nos
fortalece.
Existem também as boas
memórias, as que nos fazem rir, algumas chegam a nos fazer rolar de rir, já
gargalhou sozinho lembrando? Olhou pro lado e as pessoas estavam te olhando com
aquela expressão “Esse só pode ser louco”. Isso acontece. A memória de um amigo
engraçado, uma viagem, um beijo, um perfume, um lugar, um pôr do sol, uma
comida, uma bebida. Gente, lembro de uma caipirinha que tomei no Rio de Janeiro
e toda vez que faço uma caipirinha em casa o sabor daquela de Copacabana me vem
à cabeça. “É, mas não ficou igual”, não sei o que eles colocam, seria a mão de
quem fez ou o sentimento impresso no trabalho?
Essas sim são memórias que valem a pena guardar: os primeiros passos do
filho, o sorriso dele pra você, um abraço no pai e na mãe, o sabor do bolo de
fubá da bisavó, o cheiro de chuva na terra seca. Pô, tem memória boa pra
caramba! Duvido que você não tenha lembrado de uma porção de coisas legais
enquanto lia esses devaneios e aposto que agora até veio um sorriso no rosto. É
assim, tem coisas que valem muito a pena guardar e não podemos controlar o que
entra na caixa de memórias, pois não é igual a caixa de e-mail’s, que você vai
lá, seleciona, exclui ou salva a que quer manter, mas podemos escolher como
lidar com esses sentimentos. Tenho uma amiga psicóloga que me ensinou uma frase
muito boa e que uso em várias situações: “SE ME TIRA A PAZ, É CARO
DEMAIS.” A lembrança negativa, digamos
assim, é como uma pessoa chata, apenas ignora, não vale a pena gastar energia e
ficar nutrindo essa situação que já passou.
Nesse período de isolamento
social, aproveita pra organizar a cabeça, pra atrair bons pensamentos. De
repente, acha um caderno velho e escreve tuas histórias, rememora tuas
lembranças, faz a tua mente trabalhar ao teu favor, reescreva-se...
republique-se... reinvente-se... transform-se na melhor versão de você!
Despeço-me com uma
citação do escritor britânico, John Ruskin: “A felicidade consiste em preparar
o futuro, pensando no presente e esquecendo o passado se foi triste.”
Espero que tenham
gostado da leitura, deixem seus comentários e compartilhem. Obrigado pela
atenção, fiquem com Deus e pensem bem.
Uma indicação de
leitura: Pensar bem nos faz bem, Mario Sergio Cortella.
*Martin Seamus McFly, ou
Marty McFly, é um personagem fictício e protagonista da trilogia Back to the Future
( Devolta para o futuro), representado pelo ator Michael J. Fox
Edição: Lidiane Rodrigues medium.com/@lidsliro
Edição: Lidiane Rodrigues medium.com/@lidsliro