sexta-feira, 22 de maio de 2020

Cadê a tampa do meu pote?

Um armário, um balcão pia, três gavetas e duas portas, lá dentro potes de diferentes tamanhos, formatos, cores, detalhes, jeitos e utilidades. Recipientes vazios quando nascem, mas que um dia irão armazenar alguma coisa, afinal serão preenchidos e precisarão de uma tampa.  
Ah... As tampas! As malditas tampas que insistem em sumir misteriosamente de dentro dos armários da cozinha (por obra do acaso, destino, divindade cósmica, espíritos, buracos negros ou alguma coisa do tipo). Sabe-se apenas que elas somem, desaparecem, evaporam ou se decompõem. Esse mistério é muito antigo, vem dos avós de nossos avós, passou por nossas mães e há centenas de anos assombra as casas pelo mundo todo. 
Quem sabe um dia veremos uma matéria sobre o assunto no Globo Repórter, imagino a voz do Sergio Chapelin narrando a chamada “Hoje, no Globo Repórter, as tampas dos potes, para onde vão? Por que desaparecem?”. 
Lembro quando era criança da minha mãe desesperada procurando as tampas dos potes, revirando armários, arrastando móveis, era uma verdadeira guerra. Ah... E quando emprestava um pote para uma visita levar uma fatia de bolo ou a sobra de uma comida, anos depois a pessoa voltava para devolver, mas com a triste notícia: “Perdi a tampa do teu pote...”. Até hoje fico me perguntando quantas amizades foram desfeitas por este fato? No filme, MINHA MÃE É UMA PEÇA 2, tem uma cena que representa muito bem o que acabei de contar. A personagem Dona Herminia (interpretada pelo ator Paulo Gustavo) discute com a irmã que veio devolver um pote “Cadê tampa do meu pote, Ieza? ”. Se ainda não viram, fica a dica para assistirem, pois esta cena é maravilhosa e muito ilustrativa da vida real. 
Mas, por que falei de potes e tampas até agora?! Acredito que a maioria de vocês devem estar se perguntando, não é mesmo? Essa saga da busca pela tampa do pote é uma ótima comparação com os relacionamentos que buscamos ao longo da nossa vida. De que forma isso é possível, você me pergunta? É muito simples. Somos potes. Cada um com sua tampa, assim como aquela história da metade da laranja, chinelo velho pra um pé torto, etc. Estes comparativos correspondem ao nosso oposto complementar, mas Deus me livre de ser um chinelo velho ou um pé torto. Então, por isso vamos focar na ideia do pote e sua tampa. A tampa serve para auxiliar o pote a completar sua missão de vida, que é armazenar com segurança alguma coisa, vedar, proteger. Sobrou um pouco de arroz na panela, coloca num pote com tampa que vai pra geladeira e pronto, certo? Certo. Mas, ops! Cadê a tampa deste bendito pote? Procura direito, deve estar aí dentro do armário, procura atrás daquela panela, dentro de outro pote, olha na geladeira, olha embaixo do armário, em algum lugar deve estar. Não encontrou? Pega outra tampa, uma que encaixe mais ou menos. Bom, pode ser que seja pequena de mais, que não vede, que deixe espaços e fique caindo pra dentro. Ah... Testa outra tampa então, mas esta é muito grande, o vento pode fazê-la voar. Pera aí, encontrou uma que parece perfeita, mas precisa apertar um pouco o pote, precisa ceder pra que encaixe e, se movimentar muito rápido ou apertar com força, a tampa solta. Realmente, encontrar a tampa perfeita não é tão simples assim. 
Enfim, amigos, tentei fazer uma analogia da vida, dos relacionamentos, da convivência humana com estes termos que sempre ouvimos dizer: tampa da panela, metade da laranja, chinelo e pé. Mas na vida, ninguém é perfeito pra ninguém, não somos seres inanimados como estes objetos que listei, todos temos defeitos ao olharmos de perto. Por isso precisamos notar que cada ser é único em sua singularidade é dotado de qualidades aparentes e valores, e não somente de defeitos. Quando encontramos alguém que nos cativa, estamos voltados para as suas qualidades, afinal são elas que nos cativam, mas no dia a dia tudo isto pode mudar, e por determinados momentos esquecemos destas tantas qualidades e nos focamos com as coisas ruins que ainda não conhecíamos, deixando de lado tudo o que era bom. 
Uma verdade seja dita então: não existe tampa perfeita e tão pouco você precisa de uma. Uma tampa pode servir apenas para te limitar, pra abafar, pra cobrir seu interior, pra ofuscar o que você armazena, pra esconder as coisas boas que traz dentro de si. Talvez a melhor tampa pra você seja aquela que te desafia a ser melhor, a evoluir, a transbordar a centelha de luz que você carrega, ela pode ser diferentes em vários aspectos, mas se tem valores semelhantes, vale a pena ter por perto. Existem sim essas pessoas que nos fazem bem, que são capazes de compartilhar de nossa convivência e enxergar dentro do pote tudo de bom que carregamos e que estará disposta a crescer, incentivar e dialogar. 
Lembram do texto sobre Dependência emocional que escrevi esses dias, se não leu ainda, volta e lê. Se leu, pode reler. Bem, você não precisa de uma tampa, tão pouco é esse pé torto precisando de um chinelo. Você é tudo o que precisa ser e conviver contigo é uma dádiva. Lembre-se de olhar o bom de quem esta ao seu lado e que você também tem seu lado bom. E que as diferenças ou defeitos são possibilidades de evolução. 
PS.: Se você não acredita em nada do que escrevi aqui, peço desculpas, opiniões são particulares e únicas, segue procurando a tua tampa perfeita. Mas minha dica é: vive a vida como um ser perfeito e completo, seja feliz consigo mesmo que logo ali na frente alguém será feliz contigo também. O amor, o cuidado e atenção são os melhores encaixes.  

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